Sobre esse tempo gasto
que parece ser tempo de espera
por alguma coisa
e não chega coisa alguma
porque não há o que chegar
não há o que
chegue
A espera pelo momento ideal é um dos grandes paradoxos da nossa relação com o tempo. Depositamos no futuro um momento de plenitude, um dia adequado em que a vida, enfim, se realizará. No entanto, essa expectativa de uma completude por vir é, ela mesma, o que nos imobiliza. Em uma conversa com uma amiga (Shel) sobre o tempo e o embate das escolhas, ela menciona uma frase certeira: “tudo é caminho!”.
Isso também pode ser pensado a partir do percurso na análise, que não consiste em alcançar esse estado de completude esperado, mas opera essa crucial inversão: a percepção de que “tudo é caminho”. A falta é a própria condição do desejo.
É justamente nesse 'caminhar' que a análise nos convida à possibilidade de uma escuta diferenciada dos significantes que nos fundaram. A aposta analítica não é a de encontrar um “eu verdadeiro”, mas a de poder se implicar na própria história a partir de outro lugar, assumindo sua incompletude.