Luto(s)
Texto: Ana Alice C. Soares
Texto: Ana Alice C. Soares
"Este livro é dedicado aos meus mortos, aqueles que carrego vivos comigo."
- Carla Rodrigues
O tempo para saber sobre a ausência, aquele oco que desorganiza, o eco nas ondulações do jogo de presença-ausência. Qual o novo desenho que toma forma no conflito entre perda e permanência?
Um pertence, como um casaco usado, marcado não somente pelo tecido que perdeu a cor, mas de todos os lugares que visitou e contribuiu para manter aquele corpo aquecido, corpo que agora é lembrança como matéria e presença enquanto memória. Há também aquele sapato de tricô, jamais usado, apenas idealizado sobre quem seria o minúsculo ser a se beneficiar do pedaço de lã, mas se fez presente no colo vazio.
Um objeto sozinho, assim como o casaco e o sapato de tricô, não tem sentido algum sem que tenha a extensão de um nome, um alguém, uma história.
O que se perde? O que ecoa na dor ensurdecedora?
Pergunta essa que dá abertura para tornar este outro o que bem-queremos: "era bom", "era mau", "era bem-humorado", era… agora é um luto, "meu morto-vivo" à disposição dos desenhos que se cria para o que ecoa mais alto do que a própria vida.